Lavadeiras e outras histórias…

Fui dar um passeio pelo Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, como faço sempre aos finais de semana. Para quem não conhece o Rio, trata-se de um parque urbano lindo, possui 1.200.000 m² de área verde, com uma flora exuberante e uma diversidade de pássaros que visitam o parque, chamando a atenção de quem faz caminhadas por lá.

Naquele domingo, passeando pelo parque vi um pai agachado junto ao seu filho pequeno que observava atentamente dois pássaros refrescando-se na água. Cheguei mais perto do garotinho e lhe disse baixinho:

– Estes passarinhos chamam-se lavadeiras!

O menino virou a cabeça para a minha direção, e com o olhar espantado, retrucou:

– Como assim?

Pássaro Lavadeira

Emendei, então:

– O nome lavadeira dado a eles vem do fato de estarem sempre perto de água doce…

O pai esboçou um sorriso com a curiosidade de seu filho.

Perguntei então para a criança:

– Você conhece a lenda sobre este pássaro?

– Não, respondeu o menino intrigado.

E, com sinal verde vindo do garoto, comentei:

– A lenda diz que, quando a Sagrada Família estava fugindo do Rei Herodes para o Egito e, ao parar em um rio para lavar as roupinhas do menino Jesus vários pássaros como estes vieram trazendo água dentro de seus bicos e a despejaram nas vestes sagradas. Por isto, nos tempos antigos, no interior do Brasil, todo avô que conhecia a história não deixava seu neto atirar com estilingue neste pássaro por considerá-lo abençoado.

– Mas o que é estilingue? Perguntou o garotinho desconfiado.

Expliquei:

É um objeto feito com galho de madeira e elástico que funcionava como uma atiradeira de pedras. E era usado, também para matar passarinhos. Mas, graças a Deus, esta brincadeira maldosa já não é mais passada de pai para filho como era antigamente.

Que bom, né, os passarinhos não merecem levar pedradas…. reforçou o garotinho.

Feliz com a resposta, com o agradecimento do pai e com o sorriso da criança em retribuição à história contada, retomei minha caminhada.

Gosto de conversar com as pessoas, principalmente as crianças. Pensei, então, quantas histórias interessantes as pessoas poderiam contar tendo este parque como inspiração.

Quase no final da caminhada, avistei, do outro lado da avenida, os jardins do Palácio do Catete. E, lembrei-me que ali, antes de ser a sede do capital do Brasil na era Vargas, foi a casa do Barão de Nova Friburgo, famoso cafeicultor dos tempos áureos do ciclo econômico do café. Bom…, mas essa seria outra história.

Helio Moreno

( Sócio da Igara Moda Arte | Pedagogo –  UNICAMP)

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